Todos sabem que eu detesto cozinhar e faço qualquer coisa pra me livrar do fogão. Qualquer coisa mesmo. Outra dia tinha 3 reais no bolso e nem ia ter tempo de passar no banco porque estava indo pra casa - imagine - fazer almoço pra mim. No caminho passei por uma espelunca que anunciava "almoço por 2,99". Adivinha o que eu fiz? Claro... entrei lá e almocei. O bife estava duro mas não tão dura quanto a vida de uma cozinheira à beira do fogão; o feijão parecia água suja mas não tão suja quanto da louça que eu teria que lavar. E ainda deu tempo pra ir ao banco...
A vantagem é que eu como de tudo: repolho, fígado, bucho, rabada, giló, quiabo... os campeões de rejeição na cozinha tremem ante meu garfo implacável.
Pois hoje eu fui almoçar na padaria. Sim, estão servindo almoço lá, comida limpinha, bem-feita, adorei. Só que se come no balcão.
Chego hoje e já havia lá uma moça de uns trinta e poucos anos, morena e bonita. Sento ao lado dela, ela me cumprimenta com um sorriso. Logo chega um homem aparentando cinqüenta e uns. Enquanto espero minha refeição ele começa a falar do nada:
- Eu sempre cozinhei enquanto era casado. Agora que sou divorciado não cozinho mais, prefiro comer fora.
Eu fiquei bem na minha, fiz de conta que não era comigo. A moça nos olhou e sorriu. Assim que nossa comida chega ele me pergunta:
- Casada?
Olha, eu ando com o saco cheio dessa conversinha de cerca-lourenço, desse papo-aranha, dessas cantadas baratas de rua. A contragosto fiz que não com a cabeça e continuei comendo, indiferente.
A moça do meu lado esquerdo (ele estava do meu lado direito) não se agüentou:
- Eu também sou divorciada.
Eles então começaram uma longa conversa que durou toda a (nossa) refeição. Eles dois, um de cada lado, eu no meio.
A coisa progrediu, porque quando eu já me preparava pra pedir um café ele pediu a ela o número do telefone. Ela pediu o dele e então ele perguntou:
- De onde é esse número? Do seu serviço?
- Não, de nosso templo. Sou evangélica e adoraria que você aparecesse lá. Você está se queixando de solidão (ela não notara a cantada implícita, se notou tratou de torcer pro que lhe interessava), e lá você verá que na solidão podemos ter um encontro verdadeiro com Jesus Cristo.
Ela metralhava passagens do evangelho como se aquilo fosse um "bombardeio santo", o homem estava assim meio atordoado como se não soubesse de onde vinha o ataque nem pra onde correr. Tive que segurar o riso até sair da padaria. Mas mal cheguei na esquina estourei numa sonora gargalhada. Pois é, as cruzadas santas resolveram agora atacar bem no quartel general do inimigo. E não é que o "comedor" se ferrou?
(por Zailda Mendes)
A vantagem é que eu como de tudo: repolho, fígado, bucho, rabada, giló, quiabo... os campeões de rejeição na cozinha tremem ante meu garfo implacável.
Pois hoje eu fui almoçar na padaria. Sim, estão servindo almoço lá, comida limpinha, bem-feita, adorei. Só que se come no balcão.
Chego hoje e já havia lá uma moça de uns trinta e poucos anos, morena e bonita. Sento ao lado dela, ela me cumprimenta com um sorriso. Logo chega um homem aparentando cinqüenta e uns. Enquanto espero minha refeição ele começa a falar do nada:
- Eu sempre cozinhei enquanto era casado. Agora que sou divorciado não cozinho mais, prefiro comer fora.
Eu fiquei bem na minha, fiz de conta que não era comigo. A moça nos olhou e sorriu. Assim que nossa comida chega ele me pergunta:
- Casada?
Olha, eu ando com o saco cheio dessa conversinha de cerca-lourenço, desse papo-aranha, dessas cantadas baratas de rua. A contragosto fiz que não com a cabeça e continuei comendo, indiferente.
A moça do meu lado esquerdo (ele estava do meu lado direito) não se agüentou:
- Eu também sou divorciada.
Eles então começaram uma longa conversa que durou toda a (nossa) refeição. Eles dois, um de cada lado, eu no meio.
A coisa progrediu, porque quando eu já me preparava pra pedir um café ele pediu a ela o número do telefone. Ela pediu o dele e então ele perguntou:
- De onde é esse número? Do seu serviço?
- Não, de nosso templo. Sou evangélica e adoraria que você aparecesse lá. Você está se queixando de solidão (ela não notara a cantada implícita, se notou tratou de torcer pro que lhe interessava), e lá você verá que na solidão podemos ter um encontro verdadeiro com Jesus Cristo.
Ela metralhava passagens do evangelho como se aquilo fosse um "bombardeio santo", o homem estava assim meio atordoado como se não soubesse de onde vinha o ataque nem pra onde correr. Tive que segurar o riso até sair da padaria. Mas mal cheguei na esquina estourei numa sonora gargalhada. Pois é, as cruzadas santas resolveram agora atacar bem no quartel general do inimigo. E não é que o "comedor" se ferrou?
(por Zailda Mendes)
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