Morando em Diadema vivo uma experiência inédita em minha vida, sempre tão cercada de mulheres: sou a única mulher da casa, que divido com meus dois filhos e meu marido. Pela primeira vez sou minoria e há sempre muito mais cuecas que calcinhas em meu varal.
Mas isso não é a parte principal. Mais que nunca sou obrigada (por medida de sobrevivência) a familiarizar-me com esse complicado e irracional universo masculino.
Pois que todo dia levanto junto com meu marido, tenha eu que trabalhar ou não, e como toda boa esposa preparo o cafezinho de toda manhã. Nesses 17 meses de convivência, quando ofereço a ele a xícara convidativa e fumegante, ele às vezes a pega sorridente, em outras diz apenas, lacônico:
- Agora não, obrigado.
Como sei que não vale a pena chatear um marido logo de manhã, cada dia eu oferecia o café em um momento do sagrado ritual de meu marido, que inclui idas e vindas do quarto ao banheiro e vice-versa sem motivo aparente, visitas a todos os espelhos da casa, alisamento de pregas inexistentes na roupa, ajeitamentos incompreensíveis do blazer, tiques como jogar o cabelo para trás e dar de ombros, exames meticulosos em todas as mechas do cabelo (incluindo as da nuca) que eu acompanho com toda a minha atenção, rolando de rir por dentro, claro.
Aí hoje eu ofereci uma xícara de café e ele aceitou, dizendo mais para si mesmo que para mim com ar satisfeito:
- Gosto de tomar minha xícara de café de cabelo penteado.
Então fez-se a luz em minha mente, quase gritei "eureka", mas disse simplesmente mais para mim mesma que para ele:
- Ah, agora já sei.
- Já sabe o que? - perguntou ele intrigado como se EU fosse a estranha depois de todas aquelas idas e vindas de manhã pela casa (eu já estou cansada quando ele sai).
- Agora já sei EM QUAL PARTE do seu ritual matinal diário inserir o café.
E depois as mulheres é que têm manias...
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