segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Os homens e seus rituais

Pergunte a qualquer homem qual é a coisa que mais detesta numa relação e ele com certeza lhe dirá que odeia rotina. Essa palavra repetida por eles com desdém através de gerações simboliza tudo o que pretensamente eles mais abominam. Muitas gerações de maridos infiéis baseiam suas escusas na (falsa) premissa de que variar está em sua natureza, que o homem é um caçador voraz que precisa de variedade para satisfazer seus apetites e que nada mais irritante para um ser do sexo masculino que todo-dia-a-mesma-coisa.

Para mim essa teoria foi inventada por algum calhorda que queria presentear sua mulher e suas amantes com belos pares de chifres, que talvez fizessem melhor figura implantados na sua própria testa. E digo isso com conhecimento de causa, porque depois de vários relacionamentos e casamentos posso afirmar sem sombra de dúvida: não existe nada mais monótono que um homem.

E essa afirmativa não contém nenhuma reclamação velada não! Que me perdoem os machistas de plantão, mas quero dizer aqui com todas as letras: homem é um bicho inseguro e A-DO-RA fazer tudo sempre igual. As mulheres é que fazem das tripas coração pra dar uma variadinha, senão é um deus-nos-acuda de tanta mediocridade e falta de imaginação.

Li há pouco tempo que a melhor forma de evitar o tal do Mal de Alzheimer é fazer as coisas rotineiras de forma diferente (escovar os dentes com a mão esquerda, andar de costas pela casa), e apesar de achar que há um pouco de exagero aqui, porque quem fizer esse tipo de exercícios em casa vai com certeza ser internado pela família), não admira que tantos homens sofram desse mal.

Tudo pros homens funciona só na base do ritual. Já viu um homem tomar banho? Começam sempre do mesmo jeito e têm "técnicas" diferenciadas pra lavar cada parte do corpo e uma ordem pré-estabelecida digna de qualquer pessoa afetada por um distúrbio compulsivo.

Fazem a barba sempre com a mesma marca de lâmina e sempre da mesma forma, alguns têm até teorias (ridículas, diga-se de passagem) a respeito de suas técnicas avançadas pra fazer o que eles fazem todo santo dia sempre do mesmo jeito irritante. Vá você presentear o seu amado que só faz a barba com aquela lâmina mais vagabunda (porque corta melhor) e aquela espuma grudenta daquela marca que só ele encontra no mercado, com um barbeador elétrico. Ele vai polidamente agradecer e esquecê-lo numa gaveta qualquer. Deus o livre de mudar seu ritual de todo santo dia.

Comem mais ou menos as mesmas coisas, vestem-se quase sempre do mesmo jeito. Repare no seu marido. Se ele é daqueles que vestem camisa e gravata antes da calça, tente sugerir botar a calça primeiro, mas prepare-se para ouvir uma preleção interminável sobre "as vantagens de botar a camisa primeiro". Uns botam a meia antes da calça porque "se for botar a meia depois a calça amarrota". Amarrota só a deles, porque há outros que botam a calça primeiro "pra não tomar friagem", e por aí vai a galeria de bobeirol engendrado pelo capeta, isso pra mim está mais do que claro.

E depois vêm com aquela conversinha mole de que gosta de variar? Gosta nada, toda vez que vão à loja de calçados procuram até encontrar outro par igualzinho àquele ridículo que ele comprou numa liquidação e você não via a hora de acabar...

Não era o homem-mosca que tinha seis pares de ternos, camisas, gravatas e meias iguais (que é pra não ter que decidir na hora de vestir)? Pois se fosse só o homem-mosca que padecesse desse mal a gente ainda dava um desconto. Não fosse a gente usar e abusar da imaginação, aparecendo cada dia com um penteado diferente (que eles fingem não notar), camisolas variadas e caprichar na hora de inventar coisas novas pro cardápio, eles não morreriam de velhos ou de doença: morreriam de monotonia.

(por Zailda Mendes)

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